quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sobre Santa Chuva e Blumenau

Marcelo Camelo - Inspiração para dias chuvosos e momentos tristes






Música com gostinho de saudade, lembranças de uma temporada em Blumenau, chuvosa como hoje, que me fazia ficar na casa em que estava hospedada ouvindo 268 vezes seguidas essa mesma música... 




Santa Chuva - Marcelo Camelo


Vai chover de novo,
deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar,
E pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus,
mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim,


Vem cá que tá me dando uma vontade de chorar,
Não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade


Quem é você pra me chamar aqui se nada aconteceu?
Me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez?


Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem,
A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar,


Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha tv que eu vou de vez,


Não há porque chorar por um amor que já morreu,
Deixa pra lá, eu vou, adeus.
Meu coração já se cansou de falsidade

Saudade de ouvir essa música no último volume, cantando de olhinhos fechados, como diria uma amiga. Saudade de Los Hermanos e do chopp na R. Bahia - Blumenau, saudade de andar fotografando a cidade toda. Saudade de parar em qualquer boteco e tomar cerveja sozinha e sair pra balada igualmente só. Saudade do cheiro das ruas, de ver capivaras no centro da cidade, dos morros de casinhas tão bem cuidadas, da preocupação estética que até hoje só vi em Blumenau. Nessa mesma época há 2 anos estava indo pra lá, deu vontade de voltar, sentir a preguiça da tarde e ter como maior preocupação a programação para a noite. 
Lembro que também em 2009, em janeiro, aconteceram aquelas chuvas que alagaram a região, ainda em setembro, quando estive por lá via-se rastros da destruição. Tudo muito triste, mas com ímpeto forte de recomeço, as pessoas não se abateram, estavam a preparar a bela festa de outubro.
 Qual a relação de um assunto com o outro? Também não sei, mas dentro de mim tudo está muito relacionado.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ícaro morreu

Era sábado, começava a madrugada e eu voltando para casa com algumas cervejas na cabeça e um cigarro na mão. Quando o avistei, de imediato soube que precisava de cuidados, havia alguns arranhões em seu rosto, seu corpo parecia partido mas nada que não pudesse ser reparado, reconstruído, repensado, principalmente nessa casa onde tudo se transforma. Fiz planos para ele, o queria por perto. Vi algo de belo em seu semblante, apesar da tristeza demostrada no rosto. Segurei no colo, joguei o cigarro fora para melhor acomodá-lo, dei-lhe um nome, Ícaro.
Como o grego, meu Ícaro também não sabia voar, não soube aproveitar as asas recém ganhadas, ou já havia perdido o gosto pela vida. Assim que chegamos, Ícaro cometeu suicídio. Jogou-se dos meus braços para o chão. Não se preocupou com sua fragilidade, talvez tenha se esquecido que era de gesso. Não chorei, cheguei a pensar que poderia ter tido culpa, ele pode ter se sentido furtado, pode ter se sentido preso, mas meu sofrimento não mudaria nada.
Ícaro agora é só pedaços, vou jogar seus restos mortais no lixo não reciclável.

Ícaro após o suicídio


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Mulheres em extinção

Segundo matéria publicada no site da folha [Veja aqui], dentro de alguns séculos, nós mulheres entraremos em extinção, ou seremos “artigo de luxo” conforme publicado. As informações são baseadas em pesquisas realizadas pela ONU, o que garante certa respeitabilidade por mais bizarra que a notícia pareça.

Isso me deixa um tanto contrariada, joga por terra várias teorias, estudos e pesquisas que realizei durante toda minha vida... Ok, exageros à parte, acredito que minhas teorias sejam muito mais contundentes, por mais que não tenham nenhum fundamento cientifico ou lógica matemática. Observe o metrô em São Paulo, por exemplo, e me diga sinceramente, o mundo vai acabar por excesso ou por falta de pessoas (homens e mulheres)? Outra questão que me intriga é que existem mais mulheres do que homens por aí. Essa constatação não foi à toa, só ver o número de nascimentos na minha família, por exemplo, ou sair disponível na balada. Se ainda tiver dúvidas só dar uma voltinha na 25 de março. Estamos em todos os locais, somos motoristas, engenheiras, advogadas, putas, policiais, traficantes, professoras, médicas e psicopatas de final triste nas novelas. Enfim, desempenhamos funções tidas como masculinas acumuladas as funções historicamente femininas. Para cumprir tantos papéis sociais, claro que somos a maioria. Muito, muito mais mulheres.
Foto de José Bóia
A matéria diz ainda que no Brasil a situação é melhor, segundo estatísticas, a última mulher (coitada!) só nasceria por volta do ano 5.000, enquanto países como Japão, Alemanha, Rússia e Itália não teriam população para o próximo milênio, a menos que as taxas de natalidade mudassem radicalmente ou a humanidade se adaptasse a nova realidade procurando alternativas para a reprodução da espécie sem necessariamente dependerem das mulheres e seus ovários, útero e gametas. Para a segunda opção, já avaliei várias possibilidades onde a tecnologia poderia ser utilizada para métodos de reprodução artificial. Nesse ponto, ou minha imaginação não é tão fértil, ou realmente não teria muita graça viver num mundo sem mulheres, da pra imaginar um mundo exclusivamente masculino? Os gays curtiriam esse novo mundo, claro, mas e os heteros mais convictos? Sem contar que se as pessoas passarem a se reproduzirem de forma artificial, o sexo provavelmente cairia no ostracismo. Se a coisa realmente chegar a este ponto, espero sinceramente que a sábia mãe natureza, que só poderia ser mulher, aborte toda a humanidade da face da terra e recomece do zero. Valerá mais a pena.

sábado, 20 de agosto de 2011



O Último Tango em Paris (1972)
Dirigido por Bernardo Betolucci
Com Marlon Brando e Maria Schneider
Fotografia: Vittorio Storaro

**

 Um homem de meia-idade conhece uma jovem quando procura um apartamento em Paris. Logo embarcam num tórrido jogo sexual e anônimo.

 A fotografia de Vittorio Storaro, a grande interpretação de Marlon Brando e a forma de Bertolucci mostrar a fragilidade humana mostram porque o filme é um dos grandes clássicos do cinema mundial. Continua atual, questionador, e por que não, polêmico.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Barricada - Luis Fernando Verissimo



Um dia, irmão, comemoraremos nossa vitória com um banquete. Todos os que lutaram, ou que só usaram o barrete. E bêbados de nós mesmos, a mesa coberta com os destroços do combate — difícil dizer o que é sangue e o que é molho de tomate —, brindaremos as cadeiras vazias dos que lá não estão. Os fantasmas de uma geração.
Um que morreu no exílio e foi devorado por vermes estrangeiros.
Um que enlouqueceu um pouco e tem delírios passageiros.
O que comprou um sítio em Cafundós do Oeste e nos manda fotos tristes dos seus pés em tamancos.
O que nós só vemos na rua, esbaforido, correndo entre dois bancos.
O que era anarquista e acabou na IBM.
O que era poeta maldito e acabou na MPM.
O que casou com a Vivinha e dizem que come a sogra.
O que era seminarista e dizem que transa droga.
Um que ia mudar o mundo, e se mudou.
O que ia ser o melhor de nós todos, e vacilou.
Nossa Rosa Luxemburgo, que abriu uma butique.
Nosso quase Che Guevara, que hoje vive de trambique.
Restaremos você e eu, irmão.
E os balões circundarão nossas cabeças como velhos remorsos. E o pianista ruirá sobre as teclas como o Império Bizantino. E os garçons olharão o relógio e desejarão a nossa morte.
Seremos sentimentais e um pouco arrogantes.
Danem-se nossas trapalhadas, estivemos nas barricadas!
Esta civilização nos deve, pelo menos, outra rodada.
Um dia, irmão, um dia.
Você proporá um brinde à razão e nossos copos vazios, com o choque, explodirão. Eu cantarei velhos hinos revolucionários, sob protestos dos vizinhos, certamente reacionários.
Brindaremos à fraternidade universal e à luta antiimperialista e à Nena do Tropical, que dava desconto pra esquerdista.
Choraremos um pouco. E cataremos, entre as migalhas da mesa — como oráculos o futuro nas vísceras de um cágado —, vestígios do nosso passado.
O toco de um Belmonte Liso.
Meu Deus, o meu dente do siso!
Bilhetes de loteria que nunca deram e de namoradas que também não.
A letra semi-apagada de Great Pretender.
Um tostão.
Bêbados de autopiedade, brindaremos esta cidade onde nascemos e morremos mais de uma vez (só eu foram três) mas salvamos do inimigo. Nosso reino, nosso umbigo.
Não temos placas na rua como heróis da Resistência, mas temos a consciência de que os bárbaros não passaram.
Mas sei que no fim desses disse-que-disses os dois prostrados como mães de misses já com aquele olhar do Ulysses você me dirá no nariz, com um bafo que, bem aproveitado, seria uma força motriz:
— Como, heróis? Como, não passaram? Meu querido, não te falaram?
E completará com um gargalo, a caminho do assoalho:
— Os bárbaros ganharam!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Retro-visor

 “Hoje em dia nada é mais escasso que o tempo”, disse para si em voz alta e rapidamente fora levada para longe dali. Pensava no passado recente, nas companhias de outros tempos, pessoas que julgou serem viscerais e hoje não encontrava mais.
Partiu para as boas histórias trazidas dos verões passados, nos lugares outrora frequentados, nos símbolos perdidos no obscuro do passado. De repente, teve de volta o que a memória tentou renegar, sentiu necessidade de viver tudo novamente, estava decidida a ligar para a antiga turma e marcar um encontro, quem sabe um final de semana na mesma praia de 7 ou 8 anos antes, todos seriam convidados. Reunião de velhos amigos sempre pendem para o saudosismo, já se via rindo novamente de histórias repetidas e esquecidas, perdoaria antigas mágoas, voltaria a participar da vida dessas pessoas tão queridas, jurariam não mais perderem contato.
Mas o semáforo abriu, a vida seguiu e no sinal seguinte retocava o batom, sem se lembrar o que minutos antes havia visto pelo retrovisor.





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Os Ombros Suportam o Mundo - Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo que não se diz mais: Meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Encontro - Luís Fernando Veríssimo

Ela o encontrou pensativo em frente aos vinhos importados. Quis virar, mas era
tarde, o carrinho dela parou junto ao pé dele.  Ele a encarou, primeiro sem expressão,
depois com surpresa, depois com embaraço, e no fim os dois sorriram. Tinham estado
casados seis anos e separados, um. E aquela era a primeira vez que se encontravam
depois da separação. Sorriram e ele falou antes dela; quase falaram ao mesmo tempo.
- Você está morando por aqui?
- Na casa do papai.
Na casa do papai! Ele sacudiu a cabeça, fingiu que arrumava alguma coisa dentro
do seu carrinho - enlatados, bolachas, muitas garrafas -, tudo para ela não ver que ele
estava muito emocionado.
Soubera da morte do ex-sogro, mas não se  animara a ir ao enterro. Fora logo
depois da separação, ele não tivera coragem  de ir dar condolências formais à mulher
que, uma semana antes, ele chamara de vaca. Como era mesmo que ele tinha dito? "Tu
és uma vaca sem coração!" Ela não tinha nada de vaca, era uma mulher esbelta, mas
não lhe ocorrera outro insulto. Fora a última palavra que lhe dissera. E ela o chamara de
farsante. Achou melhor não perguntar pela mãe dela.
- E você? - perguntou ela, ainda sorrindo.
Continuava bonita.
- Tenho um apartamento aqui perto.
Fizera bem em não ir ao enterro do velho. Melhor que o primeiro reencontro fosse
assim, informal, num supermercado, à noite. O que é que ela estaria fazendo ali àquela
hora?
- Você sempre faz compras de madrugada?
Meu Deus, pensou, será que ela vai tomar a pergunta como ironia?
Esse tinha sido um dos problemas do casamento, ele nunca sabia como ela ia
interpretar o que ele dizia. Por isso, ele  a chamara de vaca no fim. Vaca não deixava
dúvidas de que ele a desprezava.
- Não, não. É que estou com uns amigos lá em casa, resolvemos fazer alguma
coisa para comer e não tinha nada em casa.
- Curioso, eu também tenho gente lá em casa e vim comprar bebidas, patê, essas
coisas.
- Gozado.
Ela dissera uns amigos. Seria alguém  do seu tempo? A velha turma? Ele nunca
mais vira os antigos amigos do casal. Ela sempre fora mais social do que ele. Quem sabe era um amigo? Ela era uma  mulher bonita, esbelta, claro que podia ter namorados, a
vaca.
E ela estava pensando: ele odiava festas, odiava ter gente em casa. Programa,
para ele, era ir para a casa do papai jogar buraco. Agora tem amigos em casa. Ou será
uma amiga? Afinal ele ainda era moço... deixara a amiga no apartamento e viera fazer
compras. E comprava vinhos importados, o farsante.
Ele pensou: ela não sente minha falta. Tem a casa cheia de amigos. E na certa viu
que eu fiquei engasgado ao vê-la, pensa que eu sinto falta dela. Mas não vai ter essa
satisfação, não senhora.
- Meu estoque de bebidas não dura muito. Tem sempre gente lá em casa - disse
ele.
- Lá em casa também é uma festa atrás da outra.
- Você sempre gostou de festas.
- E você, não.
- A gente muda, né? Muda de hábitos...
- Tou vendo.
- Você não me reconheceria se viesse viver comigo outra vez.
Ela, ainda sorrindo:
- Que Deus me livre.
Os dois riram. Era um encontro informal.
Durante seis anos tinham se amado muito. Não podiam viver um sem o outro. Os
amigos diziam: esses dois, se um morrer o outro se suicida. Os amigos não sabiam que
havia sempre uma ameaça de mal-entendido com eles. Eles se amavam, mas não se
entendiam. Era como se o amor fosse mais forte porque substituía o entendimento, tinha
função acumulada. Ela interpretava o que ele dizia, ele não queria dizer nada.
Passaram juntos pela caixa, ele não se ofereceu para pagar,  afinal era com a
pensão que ele Ihe pagava que ela dava festas para uns amigos. Ele pensou em
perguntar pela mãe dela, ela pensou em perguntar se ele estava bem, se aquele
problema do ácido úrico não voltara, começaram os dois a falar ao mesmo tempo, riram,
depois se despediram sem dizer mais nada.
Quando ela chegou em casa ainda ouviu a mãe resmungar, da cama, que ela
precisava acabar com aquela história de  fazer as compras de madrugada. Que ela
precisava ter amigos, fazer alguma coisa, em vez de ficar lamentando o marido perdido.
Ela não disse nada. Guardou as compras antes de ir dormir.
Quando ele chegou ao apartamento, abriu uma lata de patê, o pacote de bolachas,
abriu o vinho português, ficou bebendo e comendo sozinho, até ter sono e aí foi dormir.
Aquele farsante, pensou ela, antes de dormir.
Aquela vaca, pensou ele, antes de dormir.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


virtual
vir.tu.al


1 Que não existe como realidade, mas sim como potência ou faculdade. 2 Que equivale a outro, podendo fazer as vezes deste, em virtude ou atividade. 3 Que é suscetível de exercer-se embora não esteja em exercício; potencial. 4 Que não tem efeito atual. 5 Possível. 6 Diz-se do foco de um espelho ou lente, determinado pelo encontro dos prolongamentos dos raios luminosos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tarde de Yansã

A janela se abriu como se fosse a própria vida
Uma tarde de sol na cidade cinza
De repente foi sacudida pela saia de Yansã

Oya saudando a tarde
Fazendo tremer as poucas árvores
Invadindo meu ser

Senti a força da natureza em mim
e eu toda era ela
Força de rainha
Sedução de mulher
Belezas de Yansã

Eparrei Oya!