sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Lobo da estepe - Hermann Hesse



(...)

- O falso e infeliz conceito de que o homem seja uma unidade duradoura já é conhecido pelo senhor. Também já sabe que o homem é formado por um número incalculável de almas, por uma multidão de egos. Dividir a unidade aparente do indivíduo nessas numerosas figuras é algo que passa por loucura; a ciência encontrou para esse fenômeno a designação de esquizofrenia. A ciência está certa, até certo ponto, quando afirma que nenhuma pluralidade pode conduzir-se sem uma direção, sem umacerta ordem e agrupamento. Mas, por outro lado, não tem razão ao imaginar ser possível somente uma ordenação única, encadeadora, perpétua, para a multiplicidade dos egos subordinados. Esse erro da ciência acarreta conseqüências desagradáveis; sua única vantagem reside na simplificação do trabalho dos mestres e dos educadores a serviço do Estado, poupando-lhes os trabalhos do pensamento e da experimentação. Em conseqüência desse erro, muitos homens que passam por “normais”, e até por valiosos membros da sociedade, são loucos incuráveis, e, por outro lado, muitos que passam por loucos são verdadeiros gênios. Por isso é que completamos aqui a imperfeita psicologia da ciência com o conceito a que denominamos a edificação da alma. Aqui demonstramos aos que experimentaram a destruição de seu próprio eu que podem a qualquer instante reordenar os fragmentos e com isso conseguir uma variedade infinita no jogo da vida. Assim como o dramaturgo cria um drama a partir de um punhado de personagens, assim construímos, com as peças de nosso eu despedaçado, novos grupos com novos jogos e atrações, com situações eternamente novas. Veja só!
Com seus dedos serenos e prudentes apanhou minhas peças, todos os velhos, jovens, crianças, mulheres; todas as figuras, as alegres e as tristes, as fortes e as delicadas, as ágeis e as lerdas,ordenou-as rapidamente em seu tabuleiro para o jogo, no qual logo começaram a formar grupos, famílias, prontas a jogar e a lutar, criando amizades e inimizades, edificando todo um mundo em miniatura. Deixou desfilar diante dos meus olhos aquele mundo liliputiano, um mundo cheio de animação mas bastante ordenado, deixou que se movesse, jogasse lutasse, fizesse pactos, desse batalha,  trocasse votos, unindo-se, multiplicando-se; era, de fato, um drama repleto de personagens, vívido e interessante.
Logo o homem desfez o jogo com um gesto alegre, derrubando todas as peças, juntando-as num monte e voltando a armar um novo jogo com o mesmo cuidado anterior, como um artista meticuloso, com as mesmas figuras, mas em grupos diferentes, com outras interdependências e entrelaçamentos. Este segundo jogo guardava relação com o primeiro: era o mesmo mundo, formado pelos mesmos materiais, mas nele havia mudado o tom, o tempo, o motivo e a situação.
E assim foi o sábio arquiteto construindo com as figuras, que eram fragmentos de mim mesmo, vários jogos, uns após outros, todos semelhantes, todos participantes de um mesmo mundo, todos submetidos a um mesmo destino, mas sempre inteiramente novos.

(...)



segunda-feira, 25 de julho de 2011

O assaltante carente




Era sábado, fazia frio. Semana do meu aniversário, já tinha comemorado duas vezes e estava a caminho do terceiro e último festejo, numa pizzaria em Diadema, cidade que moro há alguns anos e que apesar dos índices de violência dizerem o contrário, nunca tive grandes problemas, além de um episódio que fui abordada próximo a minha casa por um homem armado, mas esse me deixou partir sem levar nada de mim, inclusive até hoje nunca  me ficou muito claro quais eram suas intenções. Voltando a fatídica noite do último sábado, estava numa avenida movimentada da cidade quando percebi o meliante vindo em minha direção, pelo andar do homem percebi suas malvadas intenções, mas não dava para recuar, correr ou tentar qualquer movimento que despertasse a atenção dos outros transeuntes. O assaltante parou bem na minha frente, já estava com medo e tremia muito quando ele me pediu para que eu não corresse e não gritasse, estava com a mão dentro do blusão, ficou claro que portava uma arma. Como sou uma pessoa que confia no diálogo e na humanidade das pessoas, parti para uma conversa franca com meu assaltante, disse que naquele momento carregava R$ 20,00 e que entregaria a ele, que estava indo comemorar meu aniversário e não queria que esse episódio estragasse nem a minha noite e nem a dele, disse que entendia as razões dele fazer aquilo, cada um se vira como pode, falei. Fui solidária quando ele me disse que havia saído da prisão na noite anterior. Não tentei persuadi-lo, deixei levar meus R$ 20,00, embora ele tivesse demonstrado algum interesse em devolver-me, achei que faria mais falta pra ele que pra mim, mostrei minha mão para que  percebesse o quanto estava assustada, ele me pediu calma e garantiu que não me faria mal. Nos cumprimentamos, ele disse que sou “gente boa, mina firmezona” e inacreditavelmente me pediu um abraço antes de me deixar partir. Claro que o abracei, um gesto de afeto não se nega, menos ainda para um assaltante carente.

O resto da noite foi como se esperava, sem mais surpresas desagradáveis, mas a figura daquele assaltante pegou em algum ponto do meu sentimentalismo que quase cheguei a lamentar por não poder ajudá-lo mais e não sei quem poderá fazê-lo. Não deixei de avisar outras meninas que passavam por ali sozinhas, mas no final das contas fui conivente por não ter alertado a policia, conforme ele me pediu. Isso me deixou com um tanto de culpa, talvez ele tenha feito outras vitimas naquela noite porque eu não acionei a policia, talvez ele tenha se sensibilizado e voltado para casa com seus R$ 20,00.
Enfim, desejo a esse moço que apareçam oportunidades que o tire desse entra e sai de prisão, desejo que algo novo desponte no horizonte, que ele consiga abraços sinceros não coagidos e principalmente, desejo que algum dia esse mundo seja mais justo, merecemos isso.






segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mãe e Roque Santeiro

Recebo um e-mail de minha mãe, ela que nem é tão noveleira, embora pareça. Ela me faz pensar nos ciclos dessa vida, em novos recomeços e no amor que faz lembrar detalhes de fatos acontecidos há 26 anos atrás. Já estou na melancolia pré aniversário.


Oi Ju,

Olha que coincidência, em 1985 no dia de hoje, eu acabei de assistir a novela Roque Santeiro, que era maior sucesso na época, dei mais um tempinho e fui para o hospital Itacolomy, com uma pequena cólica que me incomodava,  por volta das 23.30 me falaram que iam chamar o anestesista ( porque vc foi chique, nasceu  com anestesico que  antes era pago, o que chamam de parto sem dor),e as 00.20 você vinha ao mundo...e hoje começa a reprise dessa novela, legal né? da a impressão que voltamos ao tempo, acordei e lembrei disso...

**
Hoje reestreia Roque Santeiro no canal Viva (Sky - 37), as 00:20, claro que não vou assistir, mas de qualquer forma realmente é muita coincidência, chega ser até emocionante.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Tipo um baião - Chico Buarque

Sabe aquele frase "se encharque mulher, de Chico Buarque", nesses últimos dias ando seguindo à risca o conselho do Deganelli e mergulhando  em doses diárias de inéditas do Chico. Já me apaixonei perdidamente por várias delas, eis outra:


**
Não sei para que
Outra história de amor a essa hora
Porém você
Diz que está tipo a fim
De se jogar de cara num romance assim
Tipo para a vida inteira
E agora, eu 
Não sei agora
Por quê, não sei 
Por que somente você
Não sei por que
Somente agora você vem
Você vem para enfeitar minha vida
Diz que será
Tipo festa sem fim
É São João
Vejo tremeluzir
Seu vestido através
Da fogueira
É carnaval
E o seu vulto a sumir
Entre mil abadás
Na ladeira

Não sei para que
Fui cantar para você a essa hora
Logo você
Que ignora o baião
Porém você tipo me adora mesmo assim
Meio mané, por fora
E agora, eu 
Não sei agora
Por quê, não sei 
Por que somente você
Não sei por que
Somente agora você vem
Vem para embaralhar os meus dias
E ainda tem
Em saraus ao luar 
Meu coração
Que você sem pensar
Ora brinca de inflar
Ora esmaga
Igual que nem
Fole de acordeão
Tipo assim num baião
Do Gonzaga

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Luar ou Sombra (M. Deganelli)





Sou eu quem faz...

Sou eu quem?

Luar ou Sombras:

Lua pra alguém

Sorri, se dentes tem

Morri leve ontem e hoje também...

(Mário Deganelli)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Nina - Chico Buarque

Entre as três canções inéditas já publicadas, Nina é minha favorita. Segue a letra:

Nina diz que tem a pele cor de neve
E dois olhos negros como o breu
Nina diz que, embora nova
Por amores já chorou que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
Nina adora viajar, mas não se atreve
Num país distante como o meu
Nina diz que fez meu mapa
E no céu o meu destino rapta
O seu
Nina diz que se quiser eu posso ver na tela
A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela
Posso imaginar por dentro a casa
A roupa que ela usa, as mechas, a tiara
Posso até adivinhar a cara que ela faz
Quando me escreve
Nina anseia por me conhecer em breve
Me levar para a noite de moscou
Sempre que esta valsa toca
Fecho os olhos, bebo alguma vodca
E vou

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nina - Chico Buarque


Manuscrito oficial da música inédita de Chico Buarque - Nina.

*Pirateando conteúdo exclusivo*




Ricardo Teixeira Corleone

Ricardo Teixeira deu uma rápida entrevista a Revista Piauí. Uma das entrevistas mais bizarras que já li na minha vida, por sinal. Além da arrogância extrema do poderoso chefão do futebol brasileiro, não há explicação para nenhum dos fatos levantados pela repórter e o cara atira para todos os lados, se defende atacando, principalmente a imprensa brasileira, ironizando o tempo todo. No mínimo revoltante, ele se considera realmente o dono do futebol no Brasil e  fica claro que ele usará (ainda mais) a Copa do Mundo de 2014 para se favorecer de todas as maneiras possíveis.
Segue alguns trechos da entrevista, leia e tire suas próprias conclusões.

David Triesman, ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol, havia dito que Teixeira pediu dinheiro para votar na candidatura inglesa para a Copa de 2018, que será realizada na Rússia. "Esquece, isso é tudo armação. Esses ingleses estão putos porque perderam, eles não se conformam. Esse Triesman está tendo de explicar na Justiça como gastou 50 milhões de dólares, sendo 15 do governo, na candidatura da Inglaterra. É uma quantia absurda, não se explica. Nós gastamos R$ 3 milhões e levamos 2014. Eles não engolem isso, percebe?", disse Teixeira à repórter Daniela Pinheiro.

O presidente da CBF partiu do mesmo princípio para falar de Andrew Jennings, autor de um livro sobre corrupção na Fifa, a quem classificou como "fanfarrão". "Minha querida, presta atenção, raciocina: a BBC é estatal, é do governo, entende? É interesse do governo inglês anular a escolha da Rússia e tirar oBrasil do páreo, porque eles acham que podem nos substituir na última hora (em 2014). É tudo orquestrado, percebe?", afirmou Teixeira.

Citando os casos de contrabando no avião da Seleção em 1994, a CPI da Nike e a do Futebol, além das denúncias sobre a Copa de 2014, Ricardo Teixeira disse que não está preocupado porque "não saiu no Jornal Nacional". Ele ainda citou que não se preocupa com as constantes denúncias de veículos como UOL, Folha de S. Paulo, Lance! e ESPN, que, segundo ele, dão "traço" de audiência.

Sobre a polêmica da indefinição dos estádios paulistas e se o Itaquerão será palco da abertura, Teixeira culpou a imprensa. "A imprensa é a maior culpada disso. Por ser toda paulista, passou três anos tentando enfiar goela abaixo o Morumbi. Com isso, atrasaram todos os projetos". 

No fim da entrevista, em um avião, a repórter relata a visão do presidente da CBF sobre o futuro. "Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir o acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Saber por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou", explicou Teixeira.


(fonte: Yahoo Esportes)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Samba de Amor e Ódio

Roberta Sá






Não gosto muito da chamada "nova mpb", é uma coisa aqui ou outra ali que consegue me cativar de fato. Ontem acessei o youtube pra ver algum vídeo (não me lembro qual) e estava na página inicial algumas músicas da Roberta Sá, como nunca parei pra ouvi-la de verdade e gostei do título "Samba de Amor e Ódio", resolvi ouvir,  pura curiosidade, o mais interessante é que achei muito bonita essa música do
Pedro Luís e Carlos Rennó, a interpretação da Roberta de Sá também é ótima, recomendo muito.


Samba do Amor e Ódio
Não há abrigo contra o mal
Nem sequer a ilha idílica na qual
A mulher e o homem vivam afinal
Qual se quer
Tão só de amor num canto qualquer.
Erra quem sonha com a paz
Mas sem a guerra
O céu existe pois existe a terra
Assim também nessa vida real
Não há o bem sem o mal.
Nem amor sem que uma hora
O ódio venha
Bendito ódio
Ódio que mantém a intensidade do amor
Seu ardor, a densidade do amor, seu vigor
E a outra face do amor vem a flor
Na flor que nasce do amor.
Porém há que saber fazer sem opor
O bem ao mal prevalecer
E o amor ao ódio incerto em nosso ser se impor
E a dor que acerta o prazer sobrepor
E ao frio que nos faz sofrer o calor
E a guerra enfim a paz vencer.
Erra quem sonha com a paz
Mas sem a guerra
O céu existe pois existe a terra
Assim também nessa vida real
Não há o bem sem o mal.
Nem amor sem que uma hora
O ódio venha
Bendito ódio
Ódio que mantém a intensidade do amor
Seu ardor, a densidade do amor, seu vigor
E a outra face do amor vem à flor
Na flor que nasce do amor.
Na flor que nasce do amor...
Na flor que nasce do amor...
Na flor que nasce do amor...

Pedro Luís e Carlos Rennó

segunda-feira, 4 de julho de 2011