segunda-feira, 25 de julho de 2011

O assaltante carente




Era sábado, fazia frio. Semana do meu aniversário, já tinha comemorado duas vezes e estava a caminho do terceiro e último festejo, numa pizzaria em Diadema, cidade que moro há alguns anos e que apesar dos índices de violência dizerem o contrário, nunca tive grandes problemas, além de um episódio que fui abordada próximo a minha casa por um homem armado, mas esse me deixou partir sem levar nada de mim, inclusive até hoje nunca  me ficou muito claro quais eram suas intenções. Voltando a fatídica noite do último sábado, estava numa avenida movimentada da cidade quando percebi o meliante vindo em minha direção, pelo andar do homem percebi suas malvadas intenções, mas não dava para recuar, correr ou tentar qualquer movimento que despertasse a atenção dos outros transeuntes. O assaltante parou bem na minha frente, já estava com medo e tremia muito quando ele me pediu para que eu não corresse e não gritasse, estava com a mão dentro do blusão, ficou claro que portava uma arma. Como sou uma pessoa que confia no diálogo e na humanidade das pessoas, parti para uma conversa franca com meu assaltante, disse que naquele momento carregava R$ 20,00 e que entregaria a ele, que estava indo comemorar meu aniversário e não queria que esse episódio estragasse nem a minha noite e nem a dele, disse que entendia as razões dele fazer aquilo, cada um se vira como pode, falei. Fui solidária quando ele me disse que havia saído da prisão na noite anterior. Não tentei persuadi-lo, deixei levar meus R$ 20,00, embora ele tivesse demonstrado algum interesse em devolver-me, achei que faria mais falta pra ele que pra mim, mostrei minha mão para que  percebesse o quanto estava assustada, ele me pediu calma e garantiu que não me faria mal. Nos cumprimentamos, ele disse que sou “gente boa, mina firmezona” e inacreditavelmente me pediu um abraço antes de me deixar partir. Claro que o abracei, um gesto de afeto não se nega, menos ainda para um assaltante carente.

O resto da noite foi como se esperava, sem mais surpresas desagradáveis, mas a figura daquele assaltante pegou em algum ponto do meu sentimentalismo que quase cheguei a lamentar por não poder ajudá-lo mais e não sei quem poderá fazê-lo. Não deixei de avisar outras meninas que passavam por ali sozinhas, mas no final das contas fui conivente por não ter alertado a policia, conforme ele me pediu. Isso me deixou com um tanto de culpa, talvez ele tenha feito outras vitimas naquela noite porque eu não acionei a policia, talvez ele tenha se sensibilizado e voltado para casa com seus R$ 20,00.
Enfim, desejo a esse moço que apareçam oportunidades que o tire desse entra e sai de prisão, desejo que algo novo desponte no horizonte, que ele consiga abraços sinceros não coagidos e principalmente, desejo que algum dia esse mundo seja mais justo, merecemos isso.






Um comentário:

  1. Nossa, ju... Que coisa mais mais... não sei... Estas coisas parece que só acontece com a gente né... (Eu sei que está chateada comigo, me perdoe!)

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