segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mário Prata

Ando meio viciada em Mário Prata, tenho lido vários livros, várias crônicas e gostado cada vez mais. Segue uma de suas crônicas que acho fantástica.

Em defesa da mulher fumante


Antes de mais nada, vamos deixar uma coisa bem clara. Não estou aqui a defender o cigarro (de tabaco). Sei de tudo, não precisa mandar cartinha para a redação reclamando. Bem para a saúde não deve fazer. Mais ou menos como respirar o ar de uma cidade como São Paulo durante anos e anos. Como é que os pais têm coragem, hoje em dia, de colocar uma criança para respirar aquilo?
O que eu quero defender são as pessoas que fumam.
Nesta campanha contra o tabagismo (liderada pelo país do Bush e só seguida pelo Brasil, em todo o mundo), o fumante virou bandido e ignorante. E o cerco está se fechando cada vez mais sobre nós. Somos caçados como traficantes dos morros. Estamos proibidos de freqüentar os melhores lugares.
Não podemos mais entrar em lugar nenhum (nos Estados Unidos e aqui). Nem em bar de aeroporto podemos mais fumar. Já tem prédio inteiros onde não se pode fumar.
Mas se a gente fuma é porque vendem. Se vendem é porque fabricam. Dinheiro! E eu, que entro com dois reais por dia nesta grande negociata, é que tenho que pagar o pato?
Dizem que somos minoria, minha amiga. Só que todas as minorias têm seus defensores, seus líderes, suas ONGS. Nós não temos. Nós somos burros e pronto. Ninguém vai te defender, menina.
Quando eu acendo um cigarro em algum lugar fora da minha casa, me olham. Me secam! Me olham com uma mistura de ódio e pena. E devem pensar: vai morrer, o babaca.
Mas é para as mulheres que eles olham com mais desdém. Como se estivéssemos no começo do século 20, devem achar que elas não prestam, que não merecem o nosso respeito e, em alguns casos, nem a nossa (deles) amizade.
Por que é que você quem não fuma ou deixou de fumar (e sofre desesperadamente até hoje, esperando morrer mesmo com uma bala perdida), por que você nos trata assim? É da sua conta, como diria meu pai?
Você não fuma, mas bebe. Você não fuma, mas sonega imposto. Você não fuma, mas trai a sua mulher. Você, não fumante, pode tudo. E nós não queremos nada. Queremos só fumar.
Fico vendo filmes americanos antigos. Todos fumam. Todos. Outro dia revi o famoso concerto com o Sinatra e o Tom Jobim. Os dois cantando Garota de Ipanema e fumando ao mesmo tempo. Fumar nem desafina, seu desafinado!
Pior que você, que nunca fumou, são aqueles que pararam. Deviam andar com uma advertência escrita na testa: não fumar pode dar câncer no saco! Tanta gente passando fome no Brasil, tanta gente sem teto, sem terra, tanta gente sem saber escrever e vocês preocupados com os que fumam? Sim, o governo e toda a sociedade estão contra nós. Nos tornamos inimigo público número um. Porra, não é mais fácil parar de fabricar e de vender?
Porque se mata mesmo, se dá câncer mesmo, o governo que deixa a mercadoria solta por aí é responsável por todas as mortes de fumantes. Ou estou louco, viajando?
Você estava lendo a revista calmamente e, de repente, caiu aqui neste desabafo entre uma tragada e outra. Te peço desculpas, minha leitora (fumante ou não). Eu só queria dizer que fumante também cria seus filhos, pagas suas contas, ama, se diverte. E morre da mesma maneira que você, que não fuma.
Só nos deixe viver em paz! O título é em defesa da mulher que fuma, pois acho que ela fica ainda mais encabulada. Tem homens, conheço alguns, que já andam virando mesa de restaurante e dando porrada em pentelho ex-fumante.
Brincando ou não, tenho medo que isto ainda vire uma guerra civil.
Tudo bem, vamos todos parar de fumar, mas vocês aí, vêem se maneram na repressão. A gente é do bem.

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