sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Zumbi e Palmares nos pertencem









Quilombo vem de kilombo, palavra do idioma mbundo, originário do centro-sul de Angola. Significa acampamento de guerra. Por volta do final do século XVI, revoltas e fugas de escravos ao sul antiga capitania de Pernambuco, deram origem ao Quilombo dos Palmares.
Palmares resistiu por quase 100 anos. Em 1695, um ano depois do ataque militar que o destruiu, Zumbi, o ultimo de seus líderes, foi executado.
A memória de Zumbi dos Palmares vive. Resiste, como sinais de lembranças que, emitidos no nosso passado colonial, não nos deixam esquecer da exploração, da opressão e dos assassinatos cometidos pelas velhas classes dominantes durante a escravatura. 
Essa memória popular, passada de geração à geração, é um importante patrimônio histórico da classe trabalhadora. Sua força foi provada contra a monarquia e depois contra a república dos poderosos, até nossos dias.
Mas Zumbi e Palmares não representam apenas lembrança de uma consciência difusa da violenta exploração e opressão racial durante o regime escravista. Simbolizam a possibilidade e a necessidade da resistência ativa, o protagonismo histórico daqueles que produzem a base material da vida em sociedade. Ontem e hoje,
Trabalhadores e trabalhadoras negras vivem ainda hoje uma realidade desigual: salários mais baixos, maior desemprego e condições gerais de vida e de futuro para seus filhos, inferiores aos demais trabalhadores. O preconceito racial sobrevive como herança transmitida pelos senhores de engenho aos capitalistas. A riqueza produzida pelo trabalho escravo está na origem do capitalismo no Brasil, e a superexploração do trabalho assalariado hoje tem nesse legado um de seus pilares.
A lei da abolição, de 1888, foi uma ação desesperada de uma monarquia em crise, que tentava manter-se de pé. Mas entre todos os abolicionistas da ordem, republicanos ou monarquistas, havia um acordo: o fim da escravidão foi uma iniciativa dos “homens de bem”, uma iniciativa, uma decisão justa, tomada a partir de cima, para o bem dos de baixo.
Pouco tempo antes da queda da monarquia, em 1889, um grupo de libertos de Vassouras, no Rio, fez chegar a Rui Barbosa uma carta.  Exigiam educação pública para seus filhos, e declaravam-se os verdadeiros autores da abolição. O famoso político republicano deixou claro: essa era uma questão nacional já revolvida pelos cidadãos, entre os quais não se contavam ex-escravos.
Com uma história longa, de enfrentamentos, crises e superações, o movimento negro ressurgiu com muita força a partir da década de 1980. Apontou um caminho para além do patamar das teorias da democracia racial e do  "negro é lindo".
Depois de 120 anos do fim da escravidão, a luta contra o preconceito racial é ainda uma necessidade cotidiana que a classe trabalhadora enfrenta. Neste 20 de novembro não temos nada pra comemorar. Vivemos, negros, brancos, índios e orientais, em um acampamento global de guerra pela sobrevivência. Pertencemos, todos, à classe trabalhadora. Somente unidos como classe podemos vencer toda forma de preconceito, opressão e exploração.

Para nós a luta contra o racismo é decisiva, porque sua sobrevivência é decisiva para o capitalismo.

Júlio Dias

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